28 de fevereiro de 2009

Quinze anos na bolsa, uma lição de vida

Por: Marcelo Smarrito
31/10/08 - 12h00
InfoMoney

Um dia desses, conversando com um amigo, ele me confidenciou que vai completar 15 anos que investe em ações. Entrou na Bolsa praticamente junto com o Plano Real. Ou seja, ele não passou por nenhuma mudança de moeda, nem por qualquer daqueles pacotes que volta e meia faziam o Brasil tremer. Em compensação, nesses dois mandatos do Fernando mais dois do Lula, um sem número de crises atravessou seu caminho: Ásia, Rússia, Bin Laden, Efeito Lula, etc. Mas ele manteve-se firme, determinado em sua decisão de manter os seus investimentos em renda variável.

Sinais de arrependimento? Pelo contrário. Os números são bem eloqüentes em relação ao acerto de sua decisão. O volume de que ele dispõe hoje na Bolsa eu conto daqui a pouco. Por ora, e apenas como memória de cálculo, vamos ficar com a soma dos valores que ele havia investido até setembro de 2008: R$ 94 mil. Guarde esse número, por enquanto, e vamos à história do meu amigo.

No início de 1994, ele aplicou R$ 5 mil em papéis que simulavam o Índice Bovespa. E, a partir daí, todo santo mês, ele passou a depositar R$ 500. Chovesse ou fizesse sol. Com crise na Ásia ou sem crise na Ásia. Independentemente de qual candidato estava na frente das pesquisas. Acreditando sempre que Bolsa = longo prazo. Nesse sentido, ele raciocinava que o seu risco na Bolsa sempre esteve limitado aos R$ 500 de cada mês - fora o investimento inicial.

"Bolsa é para aquele dinheiro que você pode dispor, e perder de vista!!!"
De 1994 a 2003, a Bolsa alternara muitos momentos de alta e de baixa. E meu amigo vira muitos dos seus próprios amigos abandonarem o barco em busca de outras aplicações aparentemente mais seguras. Naquele final de ano, meu amigo resolveu fazer, pela primeira vez, um cálculo mais profundo do seu ganho em ações. Até então, no ritmo dos R$ 500 por mês, ele havia investido R$ 65 mil, os R$ 5 mil iniciais e mais 120 meses vezes R$ 500. O valor da sua carteira de ações, já então, era de incríveis R$ 1.140.000,00. Um ganho de mais de 1.500%! Nada mau, concordam?

Mas a história não parou por aí. Meu amigo continuou, nos cinco anos seguintes, aplicando religiosamente os seus quinhentos reais por mês. Em maio de 2007, o patrimônio dele chegara a R$ 4.963.000,00! Ou seja, em apenas quatro anos, ele havia quadruplicado a sua poupança. Em abril de 2008, a carteira dele já ultrapassava o valor de R$ 5.520.000,00!

E aí a Bolsa começou a cair. Mas ele continua a poupar seus R$ 500 todo mês, pois continua acreditando que este é e continuará a ser o seu único risco mensal, continua acreditando que Bolsa é longo prazo, e continua acreditando muito no Brasil de depois de amanhã. Afinal, apesar do seu patrimônio ter recuado para "apenas" R$ 2.193.000,00, isso representa ainda um ganho acumulado de um pouco mais de 2.200%!

No final da história, eu perguntei para ele como se sentia, tendo "perdido" uma média de R$ 168 mil por mês nos últimos 13 meses, e ele me respondeu na hora:

- Meu caro, com um risco de R$ 500 por mês, eu prefiro continuar acreditando que BOLSA = LONGO PRAZO.

Bons investimentos e um bom Brasil para todos...

Corolário - bolsa é para aquele dinheiro que você pode dispor, e perder de vista!!! Na baixa você não vai ter dor de barriga...

Marcelo Smarrito é diretor de Varejo da corretora Gradual, autor do livro "Desmistificando A Bolsa de Valores" e escreve mensalmente na InfoMoney, às sextas-feiras.
marcelo.smarrito@infomoney.com.br