Valor, 17 de agosto de 2010
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está analisando a oscilação de preços das ações da TAM nos momentos que precederam o anúncio do acordo com a chilena LAN. O prêmio embutido na transação, de mais de 40%, beneficiou acionistas que compraram os papéis antes da divulgação do fato relevante. A presidente da autarquia, Maria Helena Santana, disse se tratar de um procedimento padrão. "Toda oscilação que precede a divulgação de uma informação relevante é sempre seguida de uma análise da CVM", afirmou.
Na sexta-feira, as preferenciais subiram 27,6%, com o movimento concentrando no fim da tarde.
A CVM vai pedir à companhia aérea informações sobre os envolvidos nas negociações e também solicitará à Bovespa dados sobre os investidores que operaram o papel. No entanto, é provável que nenhum resultado da investigação saia neste ano. "Geralmente, não divulgamos no mesmo ano. Fazer a investigação rápido demais não é saudável porque podemos ser levados pelo clamor público", observou.
Ontem, durante nova teleconferência com analistas, os executivos da companhia aérea brasileira TAM mostraram confiança de que a fusão com a chilena LAN será concluída já no primeiro semestre de 2011. O presidente da TAM Linhas Aéreas, Líbano Barroso, disse que o prazo estipulado para o fechamento do acordo - de seis a nove meses ) - é "realista" e baseado em transações parecidas no Brasil e no exterior. O executivo citou a aquisição da Pantanal pela TAM em dezembro, cuja autorização foi obtida em seis meses.
Além da aprovação dos acionistas, o negócio terá que passar pelo crivo da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Se aprovada, a união fará surgir um grupo com receita anual da ordem de US$ 8,5 bilhões, 45,8 milhões de passageiros, além de uma malha que cobre 116 destinos. Em valor de mercado, a Latam é a terceira maior aérea do mundo, atrás apenas das estatais Air China e Singapore Airlines. As sinergias esperadas são de US$ 400 milhões a parir do terceiro ano de fusão. "É a primeira empresa aérea latino-americana com condições de competir no mercado global", afirmou Bologna.
Ontem foi o dia das ações ordinárias da TAM, de baixíssima liquidez, mostrarem valorização. Os papéis subiram 41,9%, para R$ 44,00. Já as preferenciais, as mais negociadas, recuaram 0,5%.
Mas não foram só as ações que deram lucro aos investidores mais atentos. Os direitos de subscrição do aumento de capital que está em andamento também renderam um bom dinheiro.
O papel negociado sob o código TAMM1 na BM&F Bovespa, que dá direito ao seu detentor de comprar a ação da empresa a R$ 25,69 até 31 de agosto, valia R$ 0,11 na manhã de sexta. Em apenas um negócio, às 14h31, um investidor comprou 109,5 mil desses títulos a este preço, o que totalizou pouco mais de R$ 12 mil, de acordo com dados da Bloomberg. No fim daquele dia, o papel já valia R$ 8, e, hoje, às 12h25, era negociado a R$ 11,13. Assim, o bloco em questão valia cerca de R$ 1,2 milhão, um ganho de mais de cem vezes.