17 de maio de 2010

Crise europeia ainda vai piorar, alerta Stuhlberger


A crise europeia vai piorar mais, aumentando o contágio em outros mercados. A previsão é de Luis Stuhlberger, no relatório mensal do fundo multimercado CSHG Verde, enviado aos clientes. No relatório, o gestor diz que está “neutro” com relação à bolsa, acha que a inflação no Brasil ainda será fator de pressão por bastante tempo, mas que há oportunidades também em papéis com juros prefixados longos.

Em relação ao dólar, a expectativa é de que a moeda estrangeira continue pressionada.

Stuhlberger avalia também que o governo deve usar em breve mais artifícios para controlar o crédito, “principalmente compulsórios sobre depósitos a prazo e IOF crescente para empréstimos para pessoas físicas (exceto imóveis)”. Com isso, o governo poderá subir menos os juros, o que ajudaria a conter a alta do dólar, diminuir o custo das reservas internacionais (ao reduzir o diferencial do juro pago aqui pelo recebido lá fora) e manter o crescimento do crédito imobiliário, além de evitar uma alta maior da dívida pública.

Em abril, o Verde, um dos maiores hedge funds do mundo, fechou com perda de 1,66%, reduzindo o ganho acumulado no ano para 1,39%, quase metade do CDI do período, de 2,70%. O resultado é avaliado como bom pelo gestor, levando em conta a queda das ações, que representam 34% da carteira. A perda na bolsa foi compensada em parte pelos ganhos em operações de proteção nos mercados de câmbio e inflação. “O que não deixa de ser, apesar da decepção, uma grande agregação de valor para os investidores”, diz o relatório.

Sobre bolsa, Stuhlberger segue otimista, dizendo que “se a sustentabilidade fiscal for garantida, o investimento de verdade for retomado e a inflação for controlada, a perspectiva para a recuperação de nossa carteira de ações nos próximos anos será excelente”.

A análise mais negativa fica para a Europa. Para o gestor, “a inviabilidade do euro como moeda única para países tão diferentes é antiga, mas não é o único problema da Europa”. Ele destaca o “sacrifício enorme” que as populações da Grécia, Portugal e Espanha terão de fazer para colocar as contas dos países em ordem e recuperar a credibilidade perante os credores.

A dificuldade é maior pelo forte papel do Estado nesses países, em que responde por metade da economia local. “Diminuições de aposentadorias, empregos públicos, cortes de gastos e aumento de impostos não parecem suportáveis a uma população que vive em um padrão muito alto há muito tempo, trabalha pouco, sabe protestar muito bem e não está disposta a fazer sacrifícios, já que entende que o Estado é naturalmente o provedor de todas suas necessidades”, diz o relatório.

Assim, “conviver com PIBs nominais caindo, estouro de bolha imobiliária, falência de bancos locais entre outros sinais claros da crise local, não será fácil”.

Para Stuhlberger, o problema do euro vai ressuscitar a questão das moedas atreladas a outras com cotações fixas, o chamado “pegged”, como ocorreu com a Rússia em 1998 e a Argentina em 2001. “Nós achamos que o contágio vai piorar muito antes de melhorar”, conclui o gestor no relatório.

Sobre o Brasil, Stuhlberger aponta para pressões inflacionárias pelo lado do gasto público, com reajuste do funcionalismo e das aposentadorias. Há também pressão pela inércia inflacionária, já que o IGP-M, que subiu bastante este ano, ainda reajusta muitos contratos.

A taxa de investimento da economia brasileira também está baixa, inferior a 20% do PIB. O nível de poupança também é pequeno e 95% dos gastos do governo são engessados, e não vão para investimentos. Tudo isso representaria um risco para cima para as projeções de inflação.

Para o gestor, o pais deveria aproveitar o crescimento para reduzir seu déficit. “Se tivermos uma desaceleração cíclica da atividade, a questão fiscal volta a ser uma bola de neve”, alerta.